"Fala, Fellow!" Poesia: O Cerrado em Ponteio e Sabiá
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Atualizado: há 7 horas
Toda sexta-feira publicamos o "Fala, Fellow!", no Instagram. Se você quer participar, envie seu texto ou arte, preenchendo o formulário disponível neste link. Agora, vamos à poesia!
Por Marcelo Vieira Walsh
I
O Sabiá-Laranjeira anuncia a manhã,
mas seu canto ecoa também como alerta:
as mudanças climáticas secam veredas,
o fogo avança como fera indomada,
rios outrora caudalosos se estreitam,
a chuva, antes fiel, agora é inconstante.
E o Cerrado, coração de águas do Brasil,
resiste com raízes profundas,
guardando em cada tronco retorcido
o segredo da persistência.
II
No horizonte, o tucano risca o céu,
lagartos teiús se movem entre pedras quentes,
o tatu-canastra cava galerias ocultas,
lobos-guará desfilam com passos de realeza,
capivaras descansam às margens dos córregos,
enquanto o tamanduá-bandeira, paciente,
colhe do formigueiro seu sustento.
Jacarés repousam em brejos silenciosos,
iguana se aquece em galho solar.
É a fauna que pulsa, memória viva
de um bioma que é berço de vida.
III
Frutos amadurecem sob o sol intenso:
pequi dourado, com aroma que envolve,
araticum de polpa doce e agreste,
cagaita ácida que desperta os sentidos,
baru de casca dura e sabor nobre,
jatobá que perfuma a boca e a memória.
São oferendas da terra generosa,
sabedoria antiga em cada colheita,
nutrição que sustenta povos e histórias.
IV
Comunidades ancestrais erguem sua voz:
os indígenas guardam a ciência das ervas,
os quilombolas preservam sementes e rituais,
ribeirinhos e geraizeiros conhecem
o tempo da lua e o ciclo da chuva.
Neles reside a chave da resiliência,
um saber que não se perde no vento,
mas que floresce como resposta
aos desafios que o mundo moderno impõe.
V
As flores do Cerrado se abrem em sinfonia:
craibeiras rosadas, ipês dourados,
urucum em vermelho de fogo,
copaíba em cura, faveira robusta.
E nesse cenário, ecoa no ar distante
a canção “Sabiá”, de Tom e Chico,
como saudade e promessa,
como lembrança de 1968,
quando a poesia se fez canto de resistência.
VI
E ainda, nos ecos da memória,
ressoa a força de outro palco:
Marília Medalha e Edu Lobo entoam “Ponteio”,
Festival da TV Record, 1967,
cordas vibram, vozes se erguem,
a música se casa com a luta,
e o Cerrado parece dançar ao som
desse ponteio de esperança,
nesse compasso de Brasil que resiste.
VII
Eis que renasce a esperança no Cerrado:
dos gestores públicos que planejam com visão,
das empresas que escolhem caminhos verdes,
das ONGs que semeiam consciência,
da sociedade que aprende a cuidar,
dos povos tradicionais que guardam saberes,
e de cada pessoa que planta um gesto de futuro.
É pacto vivo, raiz entrelaçada,
força que floresce em comunhão,
para que o Cerrado siga pulsando,
ao som de sabiás e ponteios eternos.
O "Fala, Fellow!" é publicado toda sexta-feira, no Instagram dando voz às ideias, reflexões e talentos da juventude da nossa rede. Esse espaço será dedicado a produções autorais, que podem ter diversas formas: texto, vídeo, arte visual, poesia ou o que a expressão de cada pessoa mandar, desde que tenha a ver com as mudanças climáticas, meio ambiente, sustentabilidade e claro, a COP30 que está aí na nossa porta! E os fellows devem enviar sua colaboração pelo link.
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